Boa tarde, pessoal!
Por desorganização minha, não fechei ainda as notas da nossa disciplina de MIR, mas preciso fazê-lo logo. Passei os últimos dias reassistindo todos os seminários e experimentos em vídeo e lendo todos os comentários que vocês colocaram no PACA. Achei especialmente úteis as avaliações gerais que vocês fizeram. Pensei em postar feedbacks individuais, mas logo concluí que seria mais interessante fazer comentários abertos aqui no fórum, em especial sobre os mesmos pontos que eu pedi que vocês avaliassem:
1) aulas e leitura do livro do Müller;
Achei muito providencial termos um livro tão didático e bem estruturado quanto este, que se converteu em espinha dorsal do curso. Certamente ele não cobre todos os assuntos de MIR, como alguns de vocês comentaram, e como o próprio autor deixa claro no prefácio (com a "desculpa" inteligente de que ele prefere falar sobre o que ele sabe bem, ou seja, sobre o que ele já trabalhou). Eu gosto muito de aulas tradicionais na lousa e não gosto de aulas que usam slides como mecanismo de "aceleração da exposição", mas no caso desse curso e do período pro qual ele foi planejado/dimensionado isso era praticamente a única alternativa possível, ainda que causasse alguma frustração (em vocês e em mim). Alguns comentaram que tiveram dificuldades em acompanhar a velocidade de leitura do texto para estar sempre em sincronia com as aulas, às vezes conseguindo ler algum texto antes mas na maioria das vezes lendo depois da exposição em aula. Minha expectativa, que acredito ter deixado clara algumas vezes, era usar essas exposições para passar as ideias gerais, e assim tornar uma leitura subsequente mais fluente. No geral, esse me parece um livro muito útil para ter à mão e voltar a consultá-lo quando surgir a necessidade em temas específicos.
2) leitura dos artigos selecionados para discussões semanais;
Não resta dúvida de que os artigos selecionados eram bastante difíceis de modo geral, e com enorme variação de legibilidade (principalmente por pré-requisitos matemáticos/estatísticos ou forte dependência de outros artigos). Vários deles tinham pouca ou nenhuma intersecção com os temas do livro, nenhum era autocontido (aliás normalmente artigo nenhum é), e algumas vezes nem eram tão bem escritos assim (contrariando alguma expectativa pelo fato de serem premiados). A seleção foi feita muito em cima do prazo para o início do curso, e minha expectativa de que não usar critérios baseados em temas fosse gerar uma distribuição mais ou menos uniforme dos temas se revelou um fracasso: vários artigos tratavam de modelagem estatística (e.g. classificação) ou algébrica (e.g. fatoração), que são temas bem importantes mas para o qual não estávamos munidos de bibliografia (básica) adequada. Felizmente a maioria de vocês encarou esse desafio com naturalidade, levando as leituras e discussões da melhor forma possível, e lidando com as frustrações e lacunas também com relativa tranquilidade. É verdade que as discussões na maior parte das vezes acabaram se convertendo em sessões de resolução de dúvidas, e eu tinha alguma expectativa de que pudéssemos "viajar" mais nas relações entre os diversos conteúdos ou em transposições das ferramentas para outros contextos de aplicação. Olhando pelo lado bom, fomos forçados a tomar contato com muitas pesquisas bastante recentes e com formatos diversos de exposição teórica/experimental, o que será especialmente útil para quem está definindo projeto de pesquisa ou se preparando para escrever artigos.
3) preparação e apresentação dos seminários;
Gostei muito de maneira geral dos seminários, e achei a experiência coletivamente muito proveitosa. Tudo o que eu falei sobre os artigos das discussões semanais na realidade se aplica à coleção dos artigos premiados do ISMIR, ou seja, impacta tanto os seminários quanto os experimentos. É muito natural assim que alguns seminários fossem muito fáceis de preparar enquanto outros tenham dado um trabalho considerável. As primeiras apresentações também serviram de parâmetro para as preparações subsequentes, no sentido de que vocês foram tomando consciência do quanto era necessário estar "por dentro" dos assuntos para, por exemplo, serem capazes de responder dúvidas da plateia. Em alguns seminários eu posso ter sido mais enfático na cobrança por explicações, mas em nenhum momento eu estava desatento ao fato dos artigos terem graus de dificuldade muito diversos. Acho que foi um grande aprendizado para o tipo de leitura (crítica) que precisamos fazer sempre, tanto no estudo individual quanto quando vamos apresentar um trabalho para os outros (tanto faz se é aula, seminário ou quando trazemos algo para discussão em grupo).
4) preparação, realização e apresentação dos experimentos;
Se por um lado nos experimentos também enfrentamos dificuldades muito variadas (em relação à apreensão do conteúdo, ao uso ou implementação de algoritmos, aos tempos de execução dos experimentos e também ao uso ou levantamento de bancos de dados), minha impressão geral foi de que essas atividades foram mais lúdicas do que os seminários, e nem por isso menos proveitosas. Certamente a abertura para adaptar/simplificar os experimentos em relação às formas originais dos artigos contribuiu bastante para viabilizá-los. Na falta de trabalhos de implementação (EPs), que teriam sido muito difíceis de avaliar sem um monitor, essas tarefas práticas permitiram nosso contato com o uso "real" de vários algoritmos, ainda que em muitos casos não tenham sido os algoritmos que estudamos no livro do Müller. Como lição geral, vimos por um lado quão difícil é refazer o trabalho de outras pessoas (ameaçando um dos princípios fundamentais da pesquisa científica, a reprodutibilidade), e por outro lado ganhamos consciência de coisas que podemos fazer e métodos que podemos adotar para tornar nossas próprias pesquisas mais reprodutíveis, e portanto mais verificáveis.
5) crítica do curso, em relação ao formato, conteúdo e realização, com ênfase em coisas que poderiam ser melhoradas num segundo oferecimento;
Agradeço bastante a todos pelas contribuições nesse item. De fato o curso foi espremido pelo período de oferecimento, o que foi especialmente infeliz por ter sido motivado por uma perspectiva de viagem (minha) que não se concretizou, mas teve alguma consequência positiva (especialmente para aqueles que estavam mal sobrevivendo às tribulações do final do semestre). Alguns pontos eu antecipei nos outros itens, como a exposição corrida das aulas usando slides e a seleção dos artigos para discussões, seminários e experimentos. A forma de avaliação foi em geral bem recebida, ainda que alguns de vocês tenham comentado sobre a vantagem de termos EPs atrelados ao conteúdo do livro. Acredito que como um todo o curso foi bastante experimental, no sentido de aprendermos tanto com erros quanto com acertos, e fortemente colaborativo, no sentido de que muito trabalho e muito aprendizado aconteceu fora da aula e foi decorrente das interações exigidas pelas tarefas e das confluências das diversas competências que vocês traziam, e que em hipótese nenhuma reproduzia alguma hierarquia pré-concebida entre graduação, mestrado e doutorado; ou seja, tivemos doutores sendo ajudados por mestrandos sendo ajudados por graduandos sendo ajudados por doutores em todas as combinações possíveis, o que reforçou muito a ideia de que éramos um grupo caminhando junto naquela direção que originalmente imaginamos como objetivo geral da disciplina: aprender o máximo possível de MIR em 10 semanas.
6) expectativa em relação ao conceito final (A, B ou C), que reflita sua autoavaliação geral na disciplina.
Sempre achei a experiência de autocrítica e autoavaliação muito positiva, e esse caso não foi diferente. Concordo de maneira geral com suas colocações e avaliações, e todos foram bastante razoáveis nas suas expectativas em relação ao conceito final. No entanto decidi abordar essa questão de um outro ângulo, que foi pensar realmente nesse curso como uma construção coletiva, o que de fato foi. Não faço isso por preguiça de estabelecer distinções entre o envolvimento e o aproveitamento de vocês e nem por acreditar que essas diferenças não existam, mas por achar que, nesse caso em particular, ressaltar essas diferenças seria menos producente do que reconhecer o quão importante foi caminharmos todos juntos. Por isso decidi atribuir conceito A a todos os alunos matriculados, e a frequência correspondente ao controle de presença feito por vocês mesmos no PACA.
Bom final de ano a todos!
Marcelo
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